quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Se

Se as tuas mãos se moldam
ao meu sorriso,
enfáticas
e do acalento
que delas nasce
eu renasço
uma e outra vez,
quero que elas
se perpetuem
no afago agora eterno
que das tuas mãos
emana,
em pleno temporal
o gesto suave
com que moldo
as tuas mãos
se elas expressam
o comum caminho
da descoberta
e o meu sorriso.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Morte

Falta esculpir
na pedra a data
do tempo feliz
e o nome do silêncio
que após passar
deixou o teu rasto
de caminhante.

Falta aperfeiçoar
o som do gesto
e colocar
as páginas
no livro que todos lerão.

Falta tanto,
falta nada,
faltas-me tu
na noite insone,
falto-te eu
na incerta aceitação
da morte.

domingo, 26 de outubro de 2008

BERROS

Ofereço este poema à incentivadora, visitante e comentadora mais antiga e assídua dos meus blogs, incisiva e isenta, a Wind, com carinho.
Espero que gostes.

Um grito é um berro.
Gritar é bradar.

Berrar é gritar,
ralhar.

Bradar é clamar.
Clamar é protestar,
exclamar.

Ralhar é barafustar,
vociferar.

Vociferar é debater-se,
discutir
e contestar.

Agito-me com violência
e berro e grito e debato-me,
brado, vocifero e ralho,
barafusto, discuto, contesto,
exclamo, clamo
e reclamo:

-Clemência!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Cansaço

Cansam-me as ruas
apinhadas de gente
e frio do final da tarde
entranha-se nos ossos
e cansa-me...
canso-me das palavras
e dos rotineiros dias
sem rumo e desfeitos
e já me cansa tudo
o que não vejo
e o que não sinto.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Não sei


Não sei se havia vento
se era lua cheia ou nova,
era uma noite de palavras
e acolhedoras as mãos
que se davam no silêncio,
era uma noite de magia
de luzes e encantamento
e o destino
veio visitar-nos.


Foto: Viajantis

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A meio

Algumas partidas
do destino
são atenuantes
da confrangedora
rotina
outras são
intragáveis
ou indigestas
e põem sempre à prova
a nossa pouca
capacidade
de persuasão.

Quantas vezes
queremos sair
a meio da cena?!

sábado, 18 de outubro de 2008

Perco-me

Perco-me no silêncio
em que calas o meu
grito,
na ausência que o tempo
força,
na penumbra da memória,
no sôfrego latejar
das entranhas.

Perco-me no gelo
do teu corpo sem mim.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Partilha

Tenho que inventar
palavras
quando todas parecem
existir,
palavras simples,
o significado
coerente
do que eu sinto,
preciso de inventar
palavras
para lhes dar
o sentido
comum
deste amor que
partilho.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Tanto

São 6h30 de um sábado.
O telemóvel anuncia uma mensagem escrita.
Acordaste e pensaste em mim.

Deixo-me adormecer nas palavras
como se estivesses aqui
e me amasses no todo de mim.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Lembras-te?

Lembras-te quantas vezes
descemos a falésia
até à praia
de mão dada
e me explicaste
das cegonhas
e depois das gaivotas
e mergulhámos no mar?

E lembras-te
que um dia te foste
embora
e me disseste
que o tempo era o errado?

Lembras-te
que não voltaste
a descer comigo a falésia
nem me falaste mais
das gaivotas
nem das cegonhas?!!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Até

A noite sucumbe
nos teus braços
e a paixão renasce
neste cansaço,
dilatam-se as veias
no jorrar inevitável
do crepúsculo...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Voo


Compro o bilhete de ida
instalo-me confortavelmente
(dentro do possível)
e olho a paisagem.

A viagem torna-se longa
e cansativa
e deixo de me sentir
tão confortável.

Quero sair dali
rapidamente
mas tenho que esperar
(espero, claro)
quando chego
suspiro de alívio!

Até que enfim...

Nunca mais ando de avião.


Foto: Viajantis

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Paleta

Vou pintar-te das cores
mais belas,
profundas
e amantes,
que existem
nesta minha paleta

como poeta,
como artista,
pintar-te-ei
com as cores
inexistentes
e inventadas

nas minhas mãos
de amor.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Mágoa

Aproximas-te distraído
como quem não me vê,
estás tenso e eu sinto.
Abres-me a tua vida
num torpedo de mágoas,
eu ouço-te em silêncio.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Onde


Lá onde se precipita
o tempo
são rasas as lágrimas
e a saudade
é uma memória
apagada mas feroz.

Lá onde não há vento.


Foto: Viajantis
 
Strangers In The Night - Frank Sinatra